FORMAÇÃO ÉTICA E A VIOLÊNCIA NO ÂMBITO ESCOLAR


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)




SANTOS, Paulo Roberto de Oliveira


S237r
     Relação escola-família, ética e violência: análise sobre levantamentos realizados no período de 2013 a 2018 no Brasil. / Paulo Roberto de Oliveira Santos – – Anápolis: IFG, 2019.
122 p. : il. color.

Orientador: Prof. Dr. Alcyr Alves Viana Neto

Dissertação (Mestrado) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás; Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica

1.    Educação. 2. Violência. 3. Escola. 4. Família. 5. Ética. I. VIANA NETO, Alcyr Alves  orien.. II. Título.
CDD 370.1


Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Matheus Rocha Piacenti CRB1/2992

A violência em geral

·                    Há múltiplas causas para o fenômeno da violência, sendo que diversos autores (VIANA, 2017; PERALVA, 2000; MISSE, 2008, CERQUEIRA et al, 2017) a relacionam à vulnerabilidade econômica e social.
·                    Há relação de causalidade necessária entre pobreza e violência?
·                    Apesar de as escolhas serem limitadas para quem vive em situação de vulnerabilidade, estas pessoas fazem escolhas

Tipos de violência no âmbito escolar (Viana,  2017)

·                    Violência escolar é gerada pela própria instituição escolar e divide-se em violência institucional e contestadora
·                    Violência institucional manifesta-se sob a forma da violência cultural e disciplinar, e é exercida pelos responsáveis pelo funcionamento da escola, numa rede hierárquica de relações
·                    Violência contestadora é exercida pelos estudantes, é uma reação dos que estão submetidos à violência institucional
·                    Violência na escola ou extraescolar é a que ocorre no interior da instituição escolar e inclui a depredação do prédio escolar, a agressão entre alunos, a agressão entre professores e alunos, entre outras formas de manifestação

Tipos de violência no âmbito escolar (Abramovay e Castro,  2006) (Charlot, 2002)
·                    Abramovay e Castro (2006): violência escolar - violência física e microviolências (atos de incivilidade, falta de respeito, humilhações, quebra do pacto social de relações humanas e normas de convivência
·                    Abramovay e Castro (2006): outra forma de incorporação da violência pela escola é a própria violência das escolas, a violência simbólica ou institucional, que apresenta-se nas relações de poder
·                    Charlot (2002): violência na escola é aquela produzida no espaço escolar, sem vinculação com as atividades da escola
·                    Charlot (2002): violência à escola, que visa diretamente à instituição e aos que a representam e são perpetrados por alunos (depredações, incêndios, agressão a professores), além da violência da escola, isto é, a institucional, simbólica, suportada pelos alunos pela maneira como os jovens são tratados pelos adultos.

Formação ética como uma das possibilidades de combate à violência

·                    Elementos da educação: atividade intelectual (orientada para a verdade) e atividade voluntária (orientada para o bem): “O objetivo próprio da educação moral é fortalecer o poder da vontade e orientá-la para a prática do bem, mediante a criação e consolidação de hábitos de virtude moral” (BELLO 1965, p. 64).
·                    Ética palavra de origem grega (ethe) que significa costume e é sinônimo de Moral, que é de origem latina (mores) e também significa costume (JOLIVET, 1975)
·                    Conceito de moralidade: “propriedade pela qual os atos humanos se acham conformes com a regra ideal da conduta humana. [...] O comportamento moral de fato de um indivíduo ou de um povo” (JOLIVET, 1975, p. 148).
·                    “[...] para que se possa querer o bem é necessário conhecê-lo. Por isso, a educação da vontade inclui a formação da consciência moral, que é a faculdade que nos permite discernir o bem do mal, o que constitui a virtude intelectual” (BELLO, 1965, p. 64).
·                    Educação intelectual consiste na formação e consolidação de hábitos operativos, ou hábitos de ação, capazes de bem dispor o educando, não apenas para a aquisição, mas, sobretudo, para a elaboração do conhecimento (BELLO, 1965).
·                    A assimilação dos conhecimentos e o domínio de capacidades e habilidades somente ganham sentido se levam os alunos a determinadas atitudes e convicções que orientem a sua atividade na escola e na vida, que é o caráter educativo do ensino. A aquisição de conhecimentos e habilidades implica a educação de traços da personalidade (como caráter, vontade, sentimentos) (LIBÂNEO, 2006, p. 71).
·                    Atitudes e convicções dependem dos conhecimentos e os conhecimentos, por sua vez, influem na formação das atitudes e convicções, assim como ambos dependem de certo nível de desenvolvimento das capacidades mentais (LIBÂNEO, 2006, p. 131)

Agentes da educação e formação ética

·                    Agentes da educação: pais e professores (relação família-escola)
·                    Caráter integral da educação
·                    Exercício de autoridade = assumir responsabilidades pelos educandos

Proposições para uma formação ética nas escolas

·                    Parceria escola-família: em todos os cenários estudados pelos educadores, fica evidente a necessidade da parceria entre estas duas agências educacionais, especialmente na formação ética dos estudantes; a escola pode incentivar os pais a atuarem neste sentido através de ações como palestras (o produto educacional desenvolvido a partir das pesquisas realizadas para este trabalho é uma palestra, cujo conteúdo está disponível no anexo)
·                    Autoridade exercida pelos agentes da educação, que assumem responsabilidades pelos educandos: aqueles que educam precisam ter clareza quanto à responsabilidade que possuem pelo cuidado com seus educandos, especialmente quanto à formação ética destes, o que fundamenta a autoridade dos educadores perante os educandos
·                    Escola como promotora de formação ética: além de incentivar e auxiliar as famílias neste aspecto da educação, a escola pode desenvolver ações e programas que promovam o desenvolvimento de habilidades que permitam aos estudantes resolver conflitos, ter boa convivência com os demais e combater a violência em suas diversas formas e manifestações
·                    Educação intelectual: não se confunde com o estudo conteudista, que privilegia a memorização; a escola precisa proporcionar aos estudantes a possibilidade de adquirir e desenvolver competências que lhes permitirão dar significado ao que aprende e não apenas reproduzir o que é memorizado, o que é essencial para a pessoa conheça o bem a ser desejado, distinguindo-o do mal a ser evitado, especialmente, nas situações específicas e particulares de sua vida
·                    Disciplina: a escola é o lugar privilegiado da aprendizado das regras e normas, não só da sua existência, como do seu significado; é dever da escola, enquanto instituição de formação ética, auxiliar os estudantes a adquirirem disciplina, fundamental para o fortalecimento da vontade, que possibilita às pessoas fazerem escolhas visando o bem, o que é possível mesmo em um contexto de vulnerabilidade econômica e social

As proposições acima são mais específicas da escola, estão dentro das possibilidades desta instituição e atendem ao objetivo deste tópico de nosso trabalho. Ressaltamos que para atender algumas destas proposições, se faz necessário investimento na formação e no regime de trabalho dos professores.
Contudo, um dos fatores mais relevantes entre as causas da violência, conforme indicado em pesquisas, está além das possibilidades das escolas e das famílias: os problemas que ocasionam a vulnerabilidade econômica e social. Neste estudo, citamos uma pesquisa - Cerqueira et. al. (2017) – que apresenta dados conclusivos quanto à relação entre problemas sociais e violência, isto é, onde há melhorias na infraestrutura geral da sociedade, a tendência é a redução da violência.
Desta forma, é necessário a atuação da escola e das famílias na formação ética daqueles que estão sob sua responsabilidade, o que passa pelo exercício da autoridade daqueles que educam. Paralelamente, é urgente o combate aos problemas que ocasionam situações de vulnerabilidade econômica e social, o que exige a presença do Estado e a vontade das pessoas que o governam em estar presente, atuando no combate a estes problemas, sendo que a presença e atuação do Estado pode ser incluído entre os problemas éticos a serem combatidos pela formação ética.  

Referências

ABRAMOVAY, Miriam. CASTRO, Mary Garcia. Caleidoscópio das Violências nas Escolas. Missão Crianças – Série Mania de Educação, 2006

BELLO, Ruy de Aires. Filosofia da Educação. São Paulo - SP: Editora do Brasil, 1965

CERQUEIRA, Daniel. LIMA, Renato Sérgio de. BUENO, Samira. VALENCIA, Luis Iván. HANASHIRO, Olaya. MACHADO, Pedro Henrique G. LIMA, Adriana dos Santos. Atlas da Violência. Ipea e FBSP : Rio de Janeiro, 2017

CHARLOT, Bernard. Violência nas escolas: como os sociólogos franceses abordam essa questão. Sociologias, n. 8, jul./dez. 2002.

Dados de violência escolar expõem mazela social e ausência de políticas públicas adequadas para a educação no Brasil. Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. Brasília, 21 de março de 2017. Disponível em: <cnte.org.br/index.php/comunicacao/noticias/18033-dados-de-violencia-escolar-expoem-mazela-social-e-ausencia-de-politicas-publicas-adequadas-para-a-educacao-no-brasil.html>. Acesso em  30 jul. 2018

G1 Goiás. Aluno atira em colegas dentro de escola em Goiânia, mata dois e fere quatro., Goiânia, 20 out. 2017. Disponível em: <g1.globo.com/goias/noticia/escola-tem-tiroteio-em-goiania.ghtml>. Acesso em 13 jan. 2018

JOLIVET, Regis. Vocabulário de Filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1975

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo : Cortez Editora, 2006

MISSE, Michel. Sobre a acumulação social da violência no Rio de Janeiro. Civitas, Porto Alegre, v. 8, n. 3, p. 371-385, set.-dez. 2008

PERALVA, Angelina. Violência e Democracia: O Paradoxo Brasileiro. São Paulo : Paz e Terra, 2000.

VIANA, Nildo. O alargamento da violência nas escolas e o regime de acumulação integral. PERSPECTIVAS EM DIÁLOGO: REVISTA DE EDUCAÇÃO E SOCIEDADE, pp. 4-23, jan.-jun. de 2017



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Comentários

  1. Acredito que na atualidade a responsabilidade tem sido reduzida no âmbito social. De igual modo, as questões éticas não têm sido tratadas com a importância cultural e formadora da humanidade. O que, pra mim, aumenta sobremaneira a dificuldade dos jovens em discernir o papel do professor e da escola, levando à ações de rebelião social. De igual modo, a criticidade deve ser feita à partir de ações transformadoras da educação. Sendo que o impacto de tal realidade tem aumentado o analfabetismo funcional.

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